sábado, 19 de dezembro de 2015

Dança


esguias    mãos
segredam aos ventos        movimento

escorrem rios
até
pequenos baixios

enterram macias areias
e
soltam com elas

perfis esguios
 
acesa energia
gutural metade
do corpo parado
no movimento intacto

Inez Andrade Paes in Da Estrada Vermelha, 2015, p 61

domingo, 22 de novembro de 2015

ténue luz


    A fotografia é para, Anouar Brahem

    https://www.youtube.com/watch?v=SavP_Oz1X4k

quarta-feira, 4 de novembro de 2015


POEMA 20

quando a garganta seca
na palavra áspera
dita com certeza
por um momento claro

envolvo o corpo em concha
e medito
no espaço
entre a palavra dita
e a ferida aberta

com a garganta seca
e a boca fechada

Inez Andrade Paes in Paredes Abertas ao Céu, p.67 - 2010 edição de autor 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015


Mahler 5ª Sinfonia

Adagietto

um corpo ausente
a cara quase           breve sorriso

o sobrolho encerra em dor
e volta
a arquear sem um músculo que o faça mover

Inez Andrade Paes

https://www.youtube.com/watch?v=15WQNKhaCHY

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

 
       Cosmos bipinnatus

sábado, 19 de setembro de 2015

segunda-feira, 14 de setembro de 2015


Na altura tinha uma carrinha 4L e era dela que fazia a minha casa, andava de uma feira a outra a vender o que produzia em arte. E assim vivi alguns anos.
A cassete de Youssou Ndour tocava e voltava a tocar Salimata enquanto conduzia ou parada. Uma das vezes parada na berma da estrada e com o mapa aberto para ver onde ficava a estrada que procurava, Youssou gritava e eu dançava parada. Chegou uma brigada de trânsito que sorrindo perguntaram, não o que fazia mas o que o meu gravador tocava.
Não dançámos porque não creio ficasse bem para eles, mas ajudaram-me a encontrar a estrada e ainda me guiaram durante os primeiros quilómetros. Ambos tinham estado em África.

Assim Salimata de Youssou Ndour. 
https://www.youtube.com/watch?v=3SP27bnUWJk  

Dedico esta memória a meu Pai que faria hoje 91 anos e que dançaria comigo com agrado e muito ânimo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015


A FUGA

quando imagens degolam-nos os sentidos
há forças maiores a obrigar-nos as mãos
são vidas pequenas nas serenas vagas
mortas de uma fuga sem pátria
de uma mão de terror

olhem homens
que se perdem a contar
há vidas a ser batidas nas costas
desta ilusão
que seria a luz destas almas crédulas
e agora são o chão que as enterrarão

virem as mãos ao céu comigo
estão luzes ali a ver-nos a acenar
são grupos de anjos
guiam
estas almas a chegar

será assim inútil os governos
trabalharem para salvar
tantos homens que fogem da morte?


Vou escrever este poema no Natal
quantos meninos poderão repousar nestas palhinhas de água?
há conchas nos umbrais destes estábulos
e a figura de Ichthys torna-se real

Inez Andrade Paes

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

terça-feira, 11 de agosto de 2015

 
Por versos do livro DA VIDA CONCLUSA de Mário Herrero Valeiro, escrevo:
 
Que na calma do caminho abra pedras sobre as águas
canso-me logo a seguir porque a dor é a imagem
Não se tira a cruz marcada de um alto da montanha
porque lá se vai
se repara a parte mais gasta.
Limpa-se a dor também quando o pano passa.
Porque peregrinos são aqueles               os que por lá passam
e também o que de baixo do seu olhar lançam flores a murchar.
 
Este livro em que o negrume, todo ele se entrelaça entre a lua, a luz e o líquido mais terreno. Da água e da vinha esse mal que lhe trespassa
é a vida mais inteira que se abeira da poesia e da escrita, toda a letra que se abre para a Natureza.
Essa forte e indignada.
 
Mas de forte encanto na mão do Autor que Da Vida Conclusa.
 
 Inez Andrade Paes
 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Aos jovens Makondes

não é o sol que te tira a luz
não são as escamas dos peixes que chegam à praia
que te cortam os pés
são as palavras
as palavras que não sabes escrever
com as letras que te ensinaram a dizer
o teu nome
o teu verdadeiro nome
não és Americano
não és Italiano
não és Brasileiro
não és Chinês
és Moçambicano
Makonde
de tez negra avermelhada e cortada no passado
marcando assim a pele para que não te escolhessem

Não temas a origem
escreve o teu nome assim
como o nome de um guerreiro mesmo que já esteja morto
dali levarás
toda a sua dignidade humana

Shonde     Unaiti     Kulupila      Ndaudya              

Inez Andrade Paes
::::

Nomes Makondes que por causa da colonização Portuguesa tiveram obrigatoriamente de ser misturados com nomes Portugueses, tirando-lhes a essência.
Hoje - Moçambique Independente - os mesmos nomes são desprezados porque em vez deles e com o brilho do dólar é mais interessante ser John.

Shonde – Piedade
Unaiti – Independência
Kulupila – Esperança
Ndaudya – Regressar

:::

Porque hoje me lembro de si, Augusto Chilavi

[…]
 Mas continuando a falar de escultura, em Pemba no Alto Gingone vive um dos maiores Escultores Moçambicanos e creio que muito pouca gente o sabe.

 Chama-se Augusto Chilavi. Uma da peças esculpidas por ele foi um cálice, da Missa que o Papa celebrou quando esteve em Moçambique.  Tive o prazer de estar com este Senhor , e no espaço em que muitas vezes estive em pequenina... sua casa.

 A grande mangueira onde brinquei com outras crianças ainda lá estava, apesar de termos falado de que muitas outras árvores tivessem sido arrancadas com falta de senso, para dar lugar à estrada que rasga agora desde o aeroporto até ao Wimbe. Um aspecto focado por ele e bem marcado sendo ele pessoa que tão bem as conhece, quando as suas mãos durante tantos anos pegaram em madeiras tão nobres e deram novas formas umas tão sofridas outras tão belas, sobrepondo-se ao próprio sofrimento natural das árvores..

..Aprendi com o meu Pai que quando se faz qualquer tipo de construção não devemos abater árvore alguma se não for estritamente necessário. Aqui neste canto da Europa, arrasa-se primeiro e pensa-se depois...
.
Inez Andrade Paes, Pemba 2005

sexta-feira, 17 de julho de 2015

quinta-feira, 2 de julho de 2015



uma mão chega
acarinha             mesmo do silêncio
e o olhar
do horizonte em fogo

Inez Andrade Paes

sexta-feira, 26 de junho de 2015

quinta-feira, 18 de junho de 2015



dói-me a marca do golpe

foi bárbaro
sem arma   sem cordel ou chicote
de mão tapada

a tua morte assim
cega-me as lágrimas

 
Hoje a morte chegou descalça assim sem mais nada entrou pela janela e sentou-se à mesa. Olhou para mim impávida e levou todo o chão de areia.

Que a serena, doce, morna areia que a morte levou com ela seja o caminho da tua eterna luz, querido amigo Paulinho Gentil
 
Inez Andrade Paes

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Pica pica


 

em volta não há silêncio no silêncio

as árvores arrefecem o vento

e as Pegas cortam o tempo
 
Inez Andrade Paes


segunda-feira, 1 de junho de 2015



era uma vez uma galinha
que não sabia voar

deram-lhe uma linha
para poder costurar

mas faltava-lhe uma agulha

e de uma palhinha
fez uma agulha

costurou umas asas

voa agora

a galinha com asas feitas de linha

Inez Andrade Paes

Partitura para ERA UMA VEZ

https://www.youtube.com/watch?v=MggUw8ZH-Y0&feature=youtu.be


terça-feira, 12 de maio de 2015

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O sol levanta-se tarde



tenho um farol
em cima da cabeça

um farol que se guia em mim mesma

Inez Andrade Paes

sábado, 25 de abril de 2015

O vento sopra em Abril


MOENDA

ai, liberdade
que moras perto daquele
moinho
em que a água corre e te bate
em força de te levantar as espátulas
que libertam as pedras das mós

ai, liberdade que o vento  traz até aqui
a este moinho pequeno
mas cheio de labor

andadeira liberta

seu dono sai a sorrir e todo branco de pó

Inez Andrade Paes

quarta-feira, 22 de abril de 2015

sexta-feira, 17 de abril de 2015

sexta-feira, 3 de abril de 2015

 
V.12.12
 
limpo
diluído
quase translúcido
de passo lento
sem barulho
 
limpo
de grande tamanho
ainda translúcido
aquele pássaro todo branco
que sai da água
e carrega nos ombros a superfície
 
Inez Andrade Paes in Da Eterna Vontade (p.12), colecção Contramaré - Labirinto 2015
                                                   

quinta-feira, 19 de março de 2015

BORBOLETA




na natureza  juntamos as nossas almas
libertas
um pó que exalo

transparente    dourado
 
onde pousaste

em minha mão       me calo
com o poderoso brilho de tua asa

Inez Andrade Paes

sexta-feira, 13 de março de 2015

Cintilações na Sombra III

 
 
Cintilações na Sombra III, organizada por Victor Oliveira Mateus. Capa - Daniel Gonçalves. Editora Labirinto
................
 
A luz que da capa vem
a sombra que a capa esconde
a folha branca que deixa ver

reúnem
palavras e Poetas
 
Inez Andrade Paes
 
 

sábado, 28 de fevereiro de 2015




chegam pássaros

as marés agitam-se
com algas à superfície

sentem-se os riscos dos bicos e das algas ao comprido

porque tudo à deriva

chegam portos ao longe
e os pássaros sentam-se e descansam
com as algas ao pescoço

Inez Andrade Paes

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015


Design & Communication


de caracóis largos e negros
passeava a menina pela casa
olhava o chão que a encantava

não pelo espaço
mas pelo passo

que de pequeno alargava
com o sapato que calçava

Inez Andrade Paes

domingo, 1 de fevereiro de 2015

sábado, 31 de janeiro de 2015

1971


Cantar de Emigração - Adriano Correia de Oliveira



segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

ÀS ESCADARIAS DE PEMBA


esse passo lento com que sobes as escadas
em cada passo
no que de curto o olhar é pensamento
distante  raro mas de beleza constante
em que a particularidade do sonho
é desembainhado
quando o moscardo passa

no calor da subida em que cada degrau é um fardo
em cada passo uma memória
e a mulher na descida faz chegar ao rosto suado
vento breve mas certeiro

de que pedras raras são
esses degraus largos e compridos
de que pedras raras são

olha para trás
vê a buganvília
ainda te recebe na descida

Inez Andrade Paes in Da Estrada Vermelha - p.43, 2015

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

 
 
 
Inez Andrade Paes in Da Estrada Vermelha, 2015

domingo, 18 de janeiro de 2015

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

terça-feira, 6 de janeiro de 2015


há Reis
há Magos
e homens sentados
à espera da coroa

mas é para o menino que ali está deitado

só os Reis
só os Magos trazem oferendas

Inez Andrade Paes