sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

DO FUNDO




furam-me o ventre sem fim aparente
com agulhas de cobre a deixar verdete

de meu sangue espesso
o coalho
se agarra
em tubo de aço que da luz surge
com olhos espreitando
até a escuridão não deixar

do fundo
meu sangue num esgar de vómito
lança madeixas longas e sedosas
à luz se abrem num loiro pesado
desmanchando-se em terra como pasta grossa

de dedos apertados a sentir espessura
olhos que espreitam lançam reticências
aguardam o astuto que se enche de ar
a elevar a pose até desmanchar
aguardam a análise
do perito a dizer

há petróleo      aqui neste mar

de ferida aberta
sem ligadura
porque de meu ventre coalhado
o espesso sangue não serviu interesse
me deixam enfim
com esta ferida aberta

o caracol escorrega no lodo que sobra
entre pastas loiras e areias moles
de mim até ele     o buraco profundo
que ele aproveita
          e me liga
          e me remenda


Inez Andrade Paes