segunda-feira, 9 de agosto de 2010

HOJE




Este calor parado é prenúncio de tempestade. Só se os Deuses tiverem piedade de nós e agarrarem nas nuvens e as esfarraparem como algodão.
Arrefecerá sem força.
Arrefecerá com uma brisa fresca como água de riacho percorrendo em plena sombra de árvores frondosas.
Arrefecerá como nos dias de Inverno em que o frio já é frio e os Deuses nos castigam
com as nuvens esfarrapadas no céu.

Este calor parado abranda o ritmo sem cálculo.
O ritmo sem uso.
O ritmo desprezado e mal amado para a certeza das coisas que nos são dadas.

Este calor parado faz olhar para o abandono dos campos queimados
Este calor parado faz pedir as sombras das árvores abatidas
Este calor parado não faz mover os servos da economia.

Se puderem, nem que seja um arbusto daninho deitem-lhe um pingo de água.
Eu regarei as árvores por cima em mangueiradas de repuxo em arco, para que ajudem as mais pequenas que quase desistem da vida.

Inez Andrade Paes