terça-feira, 22 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Solstício de Inverno




É hoje Solstitium. A partir do meio dia e quatro minutos.
Do vinte e um ao Natal o saltinho de pardal a fazer os dias crescer.

DEPOIS DA NOITE AGRESTE

Só os rugidos do leão e da tempestade me fazem pensar seriamente na possibilidade do renascer. Em quê? Serei peixe, serei águia ou cavalo ou simplesmente e outra vez gente? São poderosos estes dois rugidos. Nasci num lugar da terra onde naturalmente as tempestades passam. Na minha existência lembro-me de lá ter passado duas e de mãos postas em sinal de respeito e oração pedíamos que a vida se prolongasse ainda mais. Hoje entendo assim, já que o medo além de asas, dá-nos a mais poderosa imaginação para cenários de Dante. Hoje habito outro lugar na terra onde não passavam tempestades assim. Noites poderosas de vento e de água que de um momento para o outro se transforma em pedras de gelo a bater em tudo. Resignadamente escutamos. A Natureza está zangada sem ninguém a dar-lhe atenção devida. As árvores contorcem-se a mostrar a fúria do vento e com ela gritam e cospem pássaros e folhas e casca e plásticos que sem parar voam e batem na luz do poste atenuando ainda mais a luz dos últimos caminhantes da noite. O vento é trotes de centenas de cavalos a descer a colina sem destino, trazendo nos olhos a fúria da injustiça de um dia lhes terem tirado a liberdade e a diminuírem num picadeiro. Pelo sossego uno as mãos como quando pequena e vejo hoje através da chuva que marca as vidraças, guerras ao longe sem fim aparente por pedaços de terra que dizem ser de gente e que une as mãos e quando as desune é para atirar uma granada a um seu semelhante e gritando de raiva dizendo que aqueles não são gente. Não quero ser gente no próximo renascer, serei talvez pássaro do alto, bem do alto do vento e da chuva abrigarei em minhas asas a Paz e a Vida que quereria contar um dia numa nova história. Inez Andrade Paes

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Natal

Leio entre espaços de pensamento, mais um ano, mais um Natal

Subo a rampa de casa a correr.
Ao entrar na sala o calor de fora escorre-me no pequeno vestido de chita.
Assombro ao ver no fundo da sala o ramo de casuarina já erguido até ao tecto para ser decorado por nós.
- Vai lavar as mãos, diz minha Mãe
Nem a lata com biscoitos acabados de fazer por ela, me faz voltar o olhar.
Paro ausente.
Dentro do quadrado preto do chão. Meus pés com lama marcam o pedaço de sala.
À volta da casuarina tantos brilhos, todos os sinos, todas as bolas, todas as tiras brilhantes que em espelho se reflectem no olhar de nós.

Este momento é breve.
Breve não é o sentimento que perdura em mim, num dos Natais em casa.

Inez Andrade Paes

Gallinula chloropus

Em Inglaterra a Galinha-d'água foi-me apresentada mais em pormenor, num pequeno lago junto a umas casas de campo, lago esse que se tornava sombrio e lamacento devido aos grandes castanheiros selvagens que o cercavam. Dezenas de Esquilos cinzentos por ali andavam de um lado para o outro. - estes Esquilos e os homens que os introduziram, são os responsáveis pelo desaparecimento dos Esquilos ruivos em Inglaterra - .... mas uma Galinha-d'água, chamou-me à atenção pela tentativa de começar o vôo, uma trôpega corrida, levanta, pousa meio desengonçada - como uma avioneta com muita carga e algum vento em rajada a levantar em pista de terra batida - com dificuldade consegue, quando já está no ar as patas continuam em posição de quem vai de novo pousar, mas aguenta o vôo de patas descaídas posição característica de sua espécie em vôo, e desaparece para outro lugar. No pequeno lago nada serenamente. De repente em flecha deixa um sulco longo que em pequenas vagas acaba nas margens, apanha um mosquito que paira em cima d'água. - Raramente se vê em bando, normalmente encontra-se um, dois ou três indivíduos neste tipo de pequenos lagos, só no Inverno vai juntar-se a mais familiares e aí chega a formar grandes bandos, para migrar - Pequenos raios de luz entre as folhas dos castanheiros entram como focos a tocar seu corpo, no sombrio lugar o azul profundo transparece do negro, o castanho do dorso parecem pinceladas mal dadas, mas tudo se compõe com o branco a delinear a parte inferior das asas e da cauda. Seu escudo frontal vermelho é a primeira cor a chamar a atenção e bem na ponta do bico parece levar um grão de milho amarelo. Bica de tudo é omnívora, sempre atenta aos bichinhos que erraram o caminho e passaram pela sua frente. Em corrida lá vai a Galinha-d'água apanhar um que se desviou, pata no ar, olhar atento com a cabeça um pouco tombada para um dos lados, espera que o pequeno insecto saia debaixo da pedra, mas o insecto saiu por trás dela, com o branco cal da cauda a parecer-lhe a bandeira da paz e a aflição a desvanecer-se. Ela tem que se alimentar bem para ter força para chocar os seus cinco ovos castanhos amarelado com pintas que a esperam na sua rápida ausência. A família é numerosa vive em quase toda a Europa, desde as ilhas Britânicas, sul da Escandinávia descendo em linha recta pela Polónia até à Grécia e preenche todo o território Europeu até tocar a ponta sul da Península Ibérica. Seus parentes mais próximos são os Galeirões (Fulica cristata e Fulica atra) e os Caimões (Porphyrio porphyrio) que como elas habitam também o continente Americano. Inez Andrade Paes

domingo, 13 de dezembro de 2009

SANTA LUZIA




É hoje.
Vamos cantar!

Natten går tunga fjät

Natten går tunga fjät
runt gård och stuva;
kring jord, som sol förlät,
skuggorna ruva.
Då i vårt mörka hus,
stiger med tända ljus,
Sankta Lucia, Sankta Lucia.
Natten går stor och stum
nu hörs dess vingar
i alla tysta rum
sus som av vingar.
Se, på vår tröskel står
vitklädd med ljus i hår
Sankta Lucia, Sankta Lucia.
Mörkret ska flykta snart
ur jordens dalar
så hon ett underbart
ord till oss talar.
Dagen ska åter ny
stiga ur rosig sky
Sankta Lucia, Sankta Lucia.

Traduzindo:

A noite é de passos pesados

A noite é de passos pesados
à volta do quintal e da casa;
à volta do solo que o sol perdoou
as sombras guardam.

Assim, na nossa casa escura
entra com velas acesas,
Santa Luzia, Santa Luzia.

A noite é grande e muda.
Agora oiçam, em todo o espaço tranquilo,
o farfalhar das asas.
Vejam, no limiar vestida de branco
com velas no cabelo
Santa Luzia, Santa Luzia.

A escuridão desaparecerá em breve
dos vales da Terra
assim uma maravilhosa
palavra nos dará.
O dia de novo surgirá do céu rósea
Santa Luzia, Santa Luzia.

sábado, 12 de dezembro de 2009

JARDIM DOS GNOMOS






Numa floresta onde o sol só entrava nas horas de maior calor, viviam os Gnomos de gorro encarnado e os de gorro azul.
Um dia uma flor vermelha muito bonita nasceu, deixando os Gnomos de gorro encarnado orgulhosos. Logo determinaram que aquela zona lhes pertencia, pensamento e determinação que deixou os de gorro azul zangadíssimos.
O Gnomo mais velho de gorro azul, decidiu ir falar com o mais velho de gorro vermelho. Na sua caminhada curta mas com alguns percalços por tropeçar na longa barba, lá chegou a arfar e bateu à porta do grande carvalho que albergava os de gorro vermelho.
- Toc! Toc! Toc! Um barulho que parecia oco pela imensidão das salas que existiam no seu interior fez pensar que todos tinham saído...devagar a porta se abre e atrás dela um gnomo mais pequeno pergunta ao mais velho o que deseja.
- Quero falar com o gnomo mais velho deste carvalho.
- Por favor entre, vou chamá-lo.
O pequenito lá vai e volta com um sumo de mirtilho e umas bolachas de gengibre.
- Sente-se e prove este sumo e estas bolachas, o meu Tio vem já.
De repente a porta abre-se com força e uma valente gargalhada ecoa na sala.
- Meu amigo Rubibango como as tuas barbas rubis estão brancas, olha para as minhas, também estão mais cinzentas.
- As tuas Melibango? As tuas estão brancas, não cinzentas. Diz Rubibango cheio de flechas pequeninas a picar Melibango.
- Sim, sim, mas as minhas madeixas de mel ainda se notam.
- Sim, sim, pintaste-as com a casca verde de noz...mas ouve, venho falar-te da flor.
- Qual flor?
- Aquela vermelha que nasceu ali no prado. Que beleza hein?
- Sim, mas tem dono.
- Como dono, não vi ninguém semeá-la?
- Sim, mas como está perto aqui da nossa árvore?!?!...
- Então todas as trufas que nascem perto da nossa árvore também são nossas.
- AH NÃO! Essas são de todos.
- Então porquê que a flor não pode ser nossa também?
Grande confusão ecoou dentro do grande carvalho,gritos e mais gritos fizeram acordar o grande mocho, espantaram todas as pequenas aves pousadas e o casal de esquilos ruivos.
De repente o sobrinho de Melibango abana com toda a força que tinha um enorme sino de cobre.Os dois calam-se e ficam espantados e vermelhos de tal forma que pareciam duas flores no prado.
- Porque não esperamos que as sementes caiam? Diz Bilibango, afinal podem nascer mais e podemos dividir por todos.
- Huumm! De dentes cerrados e olhos no chão os dois gnomos mais velhos pensaram.
- Eu aceito. Diz Rubibango.
- Eu tenho que pensar. Diz Melibango.
Enquanto Melibango pensava, Rubibango devorava as bolachas de gengibre e limpava a boca dos bocados presos aos dentes com o sumo de mirtilho.
- ESTÁ BEM! Diz alto Melibango fazendo o prato das migalhas cair das mãos de Rubibango. O prato ficou inteiro mas as migalhas espalharam-se na sala. Logo aparece a correr um esquilo que com sua cauda as varre para uma folha de carvalho.
- Então concordas.
- SIM, vamos ver se nascem mais.
Três dias passaram até que os ventos chegassem e com eles as sementes caíssem. Uma semana passou e todos os gnomos por missão se reuniam à volta do prado a ver se havia novidade.
- AQUI! Grita um deles. Era um pequeno pé de flor que surgia. Foi uma romaria à volta do pequeno pé de flor. Passaram-se mais seis dias e surgiu um botão no pequeno pé. Alguns dos gnomos nem para casa íam só para amanhecer com o Sol e ver o orvalho pingar das ervas verdes do prado e fazer crescer a flor.
- ABRIU! É AZUL! Diz um dos gnomos. Foram logo a correr a chamar os dois mais velhos. Quando chegaram dizem em coro
- AZUL?
Bilibango ria muito ao ver o espanto dos dois gnomos mais velhos. Tinha sido uma lição para todos.
Hoje o prado tem muitas flores encarnadas e azuis, que todas as Primaveras vão surgindo com os primeiros orvalhos da manhã.


Inez Andrade Paes

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O MAR QUE TOCA EM TI



"... Fizemos o resto da praia juntos até chegar a grupos grandes de homens que puxavam redes. Não me lembro nunca de ter ouvido ou visto esta forma de pescar no Wimbe. Os meus pés começaram a ser magoados por milhares de conchas partidas em pequenos pedaços.
Perguntei:
Há muito pescam assim?
Há algum tempo, senhora. É preciso trazer peixe.

O silêncio entre nós dois mergulhou no cascalho, sabendo que esta maneira de pescar não pertence ali.
Quem seria o viajante que a trouxe e sem pensar varre o fundo de um Mar que não conhece?
Quem seria o viajante que deixou nas mãos de pescadores de casquinhas redes tão longas que rasam o macio da areia de centenas de anos..
Quem serão os viajantes que por ali hoje passam e pensam que a pesca foi sempre assim?
As casquinhas continuam a cortar o Mar, umas com homens mais velhos sempre com o mesmo modo de pescar, outras com mais novos e que ouviram a voz do viajante mas não a voz do Mar.

Os pescadores ficaram para trás e voltámos de novo à areia macia. No topo da praia as casuarinas, palmeiras e outras árvores albergam centenas de tantas aves que num ruído grandioso quase nos fizeram esquecer o problema que nos emudeceu. ..."


Inez Andrade Paes
in O MAR QUE TOCA EM TI



Acompanho o texto com um filme do GREENPEACE: "O Fundo da Linha" - PESCA DO ARRASTO




terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DESAPARECEU VESTIDO DE MALMEQUERES BRANCOS


O meu anjinho de metal, tombou para a esquerda - é ele o que se encosta no meu ombro direito - tombou com o vibrar do despertador que para ele e para mim tocaram cedo demais. Estávamos exaustos na partilha dos pensamentos da noite anterior. Ele tem uma madeixa que lhe cobre parte do rosto, uma madeixa quase de prata em cara de anjo. Cai muitas vezes este. Deixa-me leve mas de tristeza no rosto, porque o outro o do lado esquerdo deve estar de férias. Outro dia vi-o a passar no corredor de vestido aos malmequeres brancos. Cada pétala que caía no chão brilhava como gambiarra acesa em noites de Natal americano. Uma a uma uni-as todas e pousei no meu ombro direito a ver se vinha. Ando agora de gambiarra americana pousada no ombro a estrelar feita stand de automóveis em estrada nacional. Preciso dele e ele anda sempre ausente ultimamente.
Resta-me este o que se encosta no meu ombro direito e me desequilibra, já pensei comprar uma cesta grande onde o carregue no meio das costas presa com um cinturão largo que me apanhe metade da testa e me repuxe as rugas e as sobrancelhas a deixar um ar altivo . Sei que nesse sentido o nosso pensamento não vai ser o mesmo. O sulco entre o meu pescoço e o ombro está fofo demais e o hábito já é antigo. Ele até já veio de outro continente comigo.

Vou deixar a gambiarra em cima da cama. Talvez de noite ele venha e se instale no sulco do lado esquerdo e durma comigo no calor da cama agora que o Outono chegou.


Inez Andrade Paes