quarta-feira, 24 de março de 2010

POEMA

sabes quando choras e o silêncio está dentro sem lágrimas ? sabes quando morrem as árvores e não podes fazer nada e não tens posse de vida porque ela não te foi dada? a não ser que as sabias ali e as vias de mãos sempre dadas sou agora assim como mutilada de uma assombração inúmera desagregada à volta do pescoço com duas mãos apertadas sabes quando choras entre um pecado uma fúria de raiva que não era precisa porque o tempo que estava não o vias passava sem o teres de perto sou agora assim presa com os nós dos dedos ao chão onde tuas hastes e braços tombaram sabes ? leva-me agora não olho pro céu fico calada Inez Andrade Paes

quinta-feira, 11 de março de 2010

Garça-real

Ardea cinerea


aquela velha Garça-real tinha um dono



planando       planando em círculos
largos
cada vez mais largos
cada vez mais baixos

abaixo de seus planos
um lago com peixes




doze dias

aquela velha Garça-real
planava       planava
pousava no muro alto
e esperava



o vento soprava em suas penas
parecia uma velha figura despenteada

levantava
de novo em plano preciso
planava

descia

mais alto pousava
          no telhado da casa que tinha o lago




o homem da casa do lago
era dono
de peixes de prata que brilharam em seu bico


aquela velha Garça-real tinha um dono

o céu


Inez Andrade Paes