“A transparência que se une por entre as árvores”
in Quiasmo 5 poemas de Inez Andrade Paes
parto à morte que me cerca
parto à morte
que me cega
nestas águas transparentes
Quatro primeiros versos do poema com o qual colaboro em: "Humuvia" Antologia poética organizada por F. Domene, S. Aguaded e D. Pérez Venegas; Palabras Mayores – Editorial Alhulia, Granada, 2023 (p.35)
A Luísa Demétrio Raposo pelo seu livro “O Fogo do Fogo No Fogo”
erupções voluptuosas
que se tresmalham entre a suave
pétala
e a crueza carnal de lasciva súplica
incompreensão ?
serão palavras as culpas de um corpo
que se desnuda e a social ética
sobressai gela entre olhares de dúvida
e a vermelhidão espásmica alterando o sangue
em desvario
comam e bebam sem descanso lambam as carnes menos insanas
toquem todos os sinos
Inez Andrade Paes
em baldio se deita a terra de lavra inteira
Primeiro verso do poema com o qual colaboro em: "O Sangue dos Rios - Poetas celebram Fernando Namora" - Antologia poética organizada por Pedro Miguel Salvado, António Lourenço Marques e Carlos d'Abreu; Edição da Câmara Municipal do Fundão, 2019 (p.51)
Incontro con la poesia di Inez Andrade Paes, traduzioni e critica poetica di Yuleisy Cruz Lezcano
in É o teu rosto fecundo entre bivalves, Revista Caliban, 2017
Leitura do livro "Serão os Cisnes que Voltam?" de Alfonso Pexegueiro
No amanhecer, não são só os pássaros que chegam para cantar, o som recortado pelo traço do paralelo em que assenta a curva da roda do carro de bois, também adianta o dia.
Vacas e bois são quem puxa. O cheiro característico que os segue é fardo que nos guia até eles. Umas vezes cheios, outras vazios, os carros aumentam o som no espaço.
No corpo limpo ou marcado, pelas crostas de bosta seca, o pêlo avermelhado ou malhado a branco e preto, tão daqui, deste lugar onde a Ria entrecorta o chão e avança lentamente com seus braços de água.
Em junta seguem os animais sob o jugo de madeira lavrada que assenta nos robustos pescoços ligados por brochas e figuras geométricas, a talha já tão macerada por anos de trabalho.
dois bois de olhos grandes
um homem calçado de socas e uma longa vara
o ritmo de todos
faz a música do dia
as patas dos animais pousando conforme a carga
o toque da vara no lombo dos bois
as socas a bater no granito os olhos dos três
encerram
um pensamento vagaroso e belo
anunciam
mais um dia de trabalho
Inez Andrade Paes
leio o que me pertence
e de mim
transparente
água
Inez Andrade Paes in Todos os Dias
uma
mulher cega pega na minha mão
e
todas as pontas
dos
seus quatro dedos da mão direita
percorrem
as linhas da minha
como
sílex que corta um caminho no chão
calada
oiço a sua respiração
vejo
os seus olhos parados
por
cima do interior das pálpebras
como
se a leitura lhe indicasse
todo
o meu passado
respira
fundo
fecha-me
a mão e sorri
fechando
em si a sua mão e dentro dela
toda
a poeira inscrita
nas
palavras que me deixam transparecer
todo
o amor
Inez Andrade Paes
(Todos os Dias 25 de Agosto de 2019)
Ho bisogno del silenzio del mattino
silenzio del mattino lavato dalla bruma della notte
che ha pianto pene di poeti destati.
Ho bisogno del silenzio più stanco della notte
dove le migliori allegrie delle immagini sorgono nella scrittura
per aiutare quel che il pensiero risuona e si unisce alla bruma e lava e ci trasforma.
Amo la vita nell'inquietudine di me
quando mi preparo ad uscire da quel che è logico.
(In: Da Estrada Vermelha)
(Trad. A. Fresu)
..
Preciso do silêncio da manhã
silêncio cristalino lavado pela cacimba da noite
que chorou mágoas de poetas acordados.
Preciso do silêncio mais cansado da noite
onde as maiores alegrias das imagens na escrita surgem
para ajudar o que ressoa o pensamento e se junta à cacimba e lava
lava e nos transforma.
Gosto da vida na inquietude de mim
quando me preparo para sair do que é lógico.
Inez Andrade Paes in Da Estrada Vermelha (p.5) edição da autora