sexta-feira, 27 de maio de 2011

Poema



...e Virgílio de Lemos oferece-me este "...branco silêncio da palavra..."


"Na vertigem de um vôo talvez acessível nos seja a beleza
nunca o infinito nem o eterno
quer sob a chuva a tempestade o sol
a brancura de uma luz que emerge imaterial e nua
solidária de uma alma de sangue.

Na Válega se escuta a voz de uma mulher e de sua poesia.

Grãos de sal de tua bôca, arco-íris de teu coração
Inez
o branco silêncio da palavra acontece."


Virgílio de Lemos
26 de Maio de 2011 - Les Moutiers en Retz

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Linho

Linum



hoje está nevoeiro

vens no dorso de Tito
com teu Cavaleiro

Inez Andrade Paes


" Trazes beijos de flor de linho
..que as tuas mãos semeiam
..no vento
..que alisa o silêncio
..do nosso caminho "

Andrea Paes


"Olho-te num passado longe... longe
tal como eras ...tal como és ainda"

Milú






quinta-feira, 19 de maio de 2011



menina não chora
aquela árvore só está a apanhar ar nos pés

gotas fortes
quase a cair dos olhos
de nó na garganta apontava o dedo àquele tronco tombado que faria mais de trinta passos ao comprido
e mais de quatro na largura
deitou-se de costas sobre ele e de braços abertos ao céu falou com a árvore, de cabeça de lado
rosto a bater na casca para a ouvir melhor

tinha sido plantada pelo vento quando a semente voou
voou e só ali parou
todos os anos por ali passavam - um velho, um macaco e um elefante -

o velho recostava-se na parte mais macia da base do tronco a descansar da caminhada
o macaco subia ao galho mais alto para ver quem vinha e quem não vinha
o elefante comia muitas folhas e coçava o traseiro enquanto falava com a árvore e lhe dizia que seguia caminho para procurar água

a menina ouviu todas as histórias que a árvore tinha e adormeceu
quando acordou o velho o macaco e o elefante parados como estátuas não deixavam ver a luz do sol que por trás aquecia

a menina tremia
não tenhas medo diz o velho
não tenhas medo diz o macaco
não tenhas medo diz o elefante eu desvio-me do sol e ficas quentinha

menina não chora
esta árvore só está a dormir

ela já não dorme mais
contou-me os seus dias e pediu-me que a levasse esculpida em barco para o pé da outra árvore do lado de lá da Baía

hoje

os ventos sopram, ouvem-se as duas árvores a falar
quando as ondas batem abraçam-se no movimento de cada onda
o velho, o elefante, o macaco e a menina estão também do outro lado da baía
com as árvores e um coelho que vive numa das raízes

se lá formos eles contam-nos o resto das histórias


Inez Andrade Paes

terça-feira, 10 de maio de 2011

Conjuntivite

É de manhã de manhãzinha quando o orvalho ainda brilha em cima das folhas onde o sol indirectamente bate e faz fumegar o chão. É de manhã de manhãzinha e cada gota demora a cair da folha levando-a quase a tocar no ramo de baixo. Só estes ruídos quase imperceptíveis, até surgirem os primeiros cantos dos pássaros. Marca o som de um motor leve, quase discreto que a modernização dos tempos fez com que ocupasse o lugar do pulverizador de tanque de cobre e de punho por cima do ombro, em que o braço é motor e em movimentos de bomba vai fazendo o jacto sair. Julgava ser proibido o uso de herbicidas. Julgava. * Desta frescura matinal, o batatal do Sr. Domingos, faz anos, dá belíssimas batatas sem bicho, sem marcas de dentes de ratos e sem traça, quando espera para ser consumida e repousa nas esteiras cheias de pó para as traças. Este faz com que tenhamos que tomar um outro, não direi , para o tratamento de algum mal advindo deste tão usual pó para as traças. Contente o Sr.Domingos com seu novo pulverizador a motor, carradas de veneno com uma pequena solução de água, a que chamam remédio de escaravelho. O seu cãozito solta-se e passa a correr no batatal. Um problema grave de conjuntivite diz-me a Sra.Rosa. E o Leão que julgavam iria crescer um pouco mais, daí o nome, está triste e chora, não porque queira mas porque está com uma conjuntivite e até se pode lavar com uma solução de malvas que também foram pulverizadas contra o escaravelho porque nascem perto do batatal. É nestas manhãs que me preservo dos fluídos visíveis e discretamente audíveis e devia sim aproveitar a luxuriante vegetação que a Primavera ajudou a rebentar. Daqui a dias estará parte queimada e surgirão testemunhos de que fábricas lá longe fizeram as suas descargas de químicos para a atmosfera e como o gás é pesado, surge como quem rasteja para atacar o inimigo. Ao passar queima tudo deixando um rasto desolador. É visível aos olhos de todos, aqui em Portugal. É usual as autarquias e câmaras terem nos seus armazéns os motores, os pulverizadores, os pacotes de veneno que nós pagamos nos impostos e do qual não somos a favor. Até quando meus senhores?Até quando? As organizações pro Natureza, acotovelam-se e sentam-se em conferência com as nossas representações regionais, autárquicas, governamentais. Tudo se descentralizou para o bem particular e o Sr. Domingos até tem assento, na autarquia, mas a economia demove-os a todos e no fim das reuniões as cláusulas que de início eram urgentes e de perigo público, passam a segundo ou terceiro plano. Tudo em prol da economia. Tudo a favor de um bom ordenado, tudo em luta porque A ganha mais do que B e tudo em guerra e salivação constante porque o latim já não é suficiente para tanto argumento para as suas bolsas. E quem fica para trás? O Leão, que afinal não cresceu e por isso tem a pouca sorte de estar com os olhos à altura do batatal, as Rolas Turcas que vieram para a Península Ibérica porque no Norte de África já não há lugar e aqui ocuparam o das Rolas-comuns que estão quase em extinção. Nós, que já é raro ver estas manhãzinhas luxuriantes porque o tempo não deixa, para arranjar dinheiro para comprar na farmácia o medicamento para a conjuntivite que nos está a atacar também através da água do poço com a qual lavamos a cara de manhã. Quem vai lavar estes olhos todos? Os grupos farmacêuticos esfregam as mãos com o creme feito de óleo de Baleia. Os accionistas frenéticos e de chiclete apostam nas companhias farmacêuticas, e nós de óculos escuros, por causa da conjuntivite a ajudar o fabrico de novos óculos de Sol. Antes que a conjuntivite nos pegue a todos, com a Natureza cuidem do vosso quintal. Através dela temos os remédios para tudo. Recolham e escolham as melhores sementes e não se iludam com verbalizações poderosas que a economia faz para as suas bolsas e não as nossas. Um dia não será o dinheiro que terá valor, mas as sementes, não aquelas que nos querem impingir, as nossas. - Quanta falta de informação e tamanho hábito ao uso do que pensava eu ser proibido. Pelo menos na UE. Europa Unida ou União Europeia? Esta Europa e seus assentos e acentos (atenção ao acordo ortográfico), não sabem que o remédio de escaravelho pode ser substituído por Rolas. Elas ocupam os batatais em pequenos bandos, porque já não são grandes e em movimentos certeiros apanham um a um os escaravelhos. - Inez Andrade Paes

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sem imagem

Se a indignação não me tocasse neste e em muitos casos sociais, é lógico que não escreveria a dizer-vos fosse o que fosse, mas faço-o também para ser, ainda, mais uma outra mão, de alguém que me pede ajuda porque está na frente de combate e eu ocupo assim um lugar de funcionalidade da palavra e da palavra Vida no aspecto gráfico no espaço e no sentimento, particular de cada um que se desenvolve em variações possíveis para se juntarem ou não a esta luta. Luta, sim, porque não são só os políticos que devem lutar e dar a cara ao seu País, devemos nós também dizer porque somos responsáveis, mesmo que venha alguém e diga: - lá vem esta com moral - esta com moral - sabe o que está a dizer e sofre. Quando lhe exigem que pague contribuições, paga, mas não quer estar a ser representada por pessoas que não sejam dignas das palavras que usam.-
Sim, a moral da vida - temos nós curso superior - e nem sabem o particípio passado dos verbos, ser, estar, morto; ter ou haver, matado e nem mesmo neste erro reparado reflectem na palavra que é tão forte e se pondere nela. Morte.
Esta, por escalpelização ainda vivo. O Animal. Ainda vivo.
Reparem na indignação da prática do troféu em forma de escalpe, que os Índios Americanos praticavam.
O que será agora destes escalpelizadores e matadores contratados? Por quem? Por que empresas? Por que países? Por que governos que nos representam?
Perguntam: - e o que iremos comer - rapidamente lhes responderia se a má criação fosse o meu forte.
Peço pois a vossa atenção senhores que nos regem e nos representam e com desenvoltura se preparam para os vossos discursos nos parlamentos vários, já que somos uma Europa Unida, a ver se se safam das maleitas deixadas ao povo pela vossa gerência económica. Peço-vos:
- Olhem por estas vidas que estão a olhar pelas vossas.

A minha luta é só uma: A vida.
A quem lhe foi dada, não lhe pode ser negada, todo o ser que se move, liberta.
Vida.


Inez Andrade Paes