quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
O MAR QUE TOCA EM TI
"... Fizemos o resto da praia juntos até chegar a grupos grandes de homens que puxavam redes. Não me lembro nunca de ter ouvido ou visto esta forma de pescar no Wimbe. Os meus pés começaram a ser magoados por milhares de conchas partidas em pequenos pedaços.
Perguntei:
Há muito pescam assim?
Há algum tempo, senhora. É preciso trazer peixe.
O silêncio entre nós dois mergulhou no cascalho, sabendo que esta maneira de pescar não pertence ali.
Quem seria o viajante que a trouxe e sem pensar varre o fundo de um Mar que não conhece?
Quem seria o viajante que deixou nas mãos de pescadores de casquinhas redes tão longas que rasam o macio da areia de centenas de anos..
Quem serão os viajantes que por ali hoje passam e pensam que a pesca foi sempre assim?
As casquinhas continuam a cortar o Mar, umas com homens mais velhos sempre com o mesmo modo de pescar, outras com mais novos e que ouviram a voz do viajante mas não a voz do Mar.
Os pescadores ficaram para trás e voltámos de novo à areia macia. No topo da praia as casuarinas, palmeiras e outras árvores albergam centenas de tantas aves que num ruído grandioso quase nos fizeram esquecer o problema que nos emudeceu. ..."
Inez Andrade Paes
in O MAR QUE TOCA EM TI
Acompanho o texto com um filme do GREENPEACE: "O Fundo da Linha" - PESCA DO ARRASTO
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Um belo texto em cima de um preocupante tema.
ResponderEliminarQue orgulho ter amigas com tanta sensibilidade.
Beijos
Preocupante mesmo. Tantos anos para voltar ao que era e se conseguir voltar.
ResponderEliminarOrgulho grande o meu também de te ter Amigo.
Beijos