sábado, 16 de fevereiro de 2013
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
POEMA a ti
Alba
solidão entre sereias
e algas
que em terra se abandonam
magoam tanto os meus pés descalços
entre as cortadas partes
que ao sol ficaram
inda percorro a terra molhada
orvalho sem dono
com o som do teu respirar vindo da toca
um homem velho
um homem belo
sinto-te aqui entre os meus afazeres
a subir a escada
com poeira cinza e heras enroladas
danças comigo de novo?
Inez Andrade Paes
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
Ao Poeta Virgílio de Lemos que escreveu o primeiro verso, nome do seu livro editado em 2001
“Para fazer um mar”
devolvo-te as pedras que tinha guardadas
lavadas
agrupadas
arrumadas e contadas
.
para juntas voltarem a estar
.
nas ondas que lavam
nas ondas que banham
tuas mãos cansadas
teus olhos aflitos
teu corpo ausente
.
sempre serenamente
aguardo o vento morno que te traz
Inez Andrade Paes
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Uma história para o Natal
A manhã é de Sol quente.
Aproximou-se da menina um homem alto - porque todos os homens são altos para a menina que ainda é pequena - aproximou-se e pisou num bocado de tecido encarnado. A menina puxou o tecido e pediu que o homem tirasse os pés de cima das Cerejas, mas ele só ali via um tecido encarnado.
- Quero comprar este tecido - apontando para o tecido encarnado -.
- O das Cerejas? Pergunta a menina.
- Sim o vermelho.
- Não é vermelho, é mais forte, vermelho três vezes forma-se em encarnado e se ficarmos a conversar um pouco mais de certeza ficará pálido vermelho porque o sol alimenta-se das cores dos meus tecidos.
- É por isso que os abanas?
- É por isso e porque assim ao longe quem passa os vê.
- Quero então um metro de Cerejas.
- Porque não leva também um metro de Mangas?
- Não, para as mangas já me chega este metro.
- Não digo de vermelho, digo um pouco deste que é quase vermelho mas ainda é laranja de Manga.
- Menina! Vamos lá a perceber, afinal o que é que eu levo?
- Não sei, leva o que quiser, mas se quiser a minha opinião, fazia as mangas a Mangas e o corpo a Cerejas.
- Então dê-me lá um quilo de cada.
E assim a menina vende os seus tecidos e convence todos os compradores a sonhar.
Inez Andrade Paes
sábado, 15 de dezembro de 2012
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
sábado, 8 de dezembro de 2012
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
sábado, 24 de novembro de 2012
sábado, 3 de novembro de 2012
Poema
dói-me a marca do golpe
que o vento deu ao ramo
que me bateu
foi rabanada bárbara
sem arma sem cordel ou chicote
de mão tapada
foi vento forte
em pausa breve
de manhã
quando a luz ainda acorda
foi vento agreste
levado e empurrado
pelo Deus zangado
insomne pelas iras da noite
fui eu
que a levei
marca-me a ira
sem a culpa que reclamo
seja imputada
na altura em que o vento
ainda vinha ao longe
e bateu no ramo
saber que o ramo
se deixou pousado
sem levantar as folhas
para que uma delas me avisasse
penso agora
porque será que o vento
não nos abraçou simplesmente
e se deixou desfazer
com a ternura da árvore
e deitou a cabeça no meu regaço?
lentamente cicatriza a ira
a culpa?
ninguém a tem
quando o ciúme impera ainda
imune de qualquer nome
Inez Andrade Paes
sábado, 27 de outubro de 2012
sábado, 20 de outubro de 2012
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Sem imagem
descem mensageiros
quando me paro no pensamento
há luz no chão
quando os meus olhos lobrigam
alguma migalha
pousada entre os meus dedos do pé
logo ao lado a solidão de um insecto
que carrega a outra migalha
são cargas pesadas
a minha
e a outra
olho para o céu
e vejo clara a manhã
mas tenho uma pena imensa
quando olho para o lado
e vejo a fraca malícia de tentação vã
vem ao meu encontro e descansa essa alma cansada
não te esqueças que ontem estava escuro
hoje a manhã é límpida e a migalha está carregada
Inez Andrade Paes
domingo, 7 de outubro de 2012
Ó da Régua
de musica se envolvia
brilhava com os instrumentos
bandas grandes
em Concertos domingueiros
um Coreto
um Coreto todo em ferro
de varandins trabalhados
agora enferrujados
porque de abandono se apresenta
este espaço altaneiro
abandonado
a voz emudecida que um dia foi ouvida
através das crianças enroladas nos ferros
em brincadeiras e danças
nas horas de maior silêncio
quando as mães descansavam sentadas a olhar para os filhos
pensando neles maestros ou músicos ou engenheiros
(e quem preservaria o Coreto?)
que ali as unia nas tardes quentes
onde os músicos afinavam sons agudos sons graves
ajudados ali perto pelos melros
hoje
resta o coitado
do Coreto
para ser olhado
desprezado
enferrujado
à espera que alguém venha
lhe dê um banho de areia
enquanto a ferrugem
não lhe leve toda a liga
Ó da Régua
que é da música?
Inez Andrade Paes
terça-feira, 2 de outubro de 2012
sábado, 29 de setembro de 2012
Sem imagem
O arrastar daquela corrente, lembra-me o de outras correntes de prisioneiros que a Pide tinha em Pemba – Moçambique, nos anos sessenta.
Ficava a prisão mesmo ao fundo da rua onde morava.
Homens subiam a estrada com carga nos ombros e nos tornozelos, estes, já com anteriores cicatrizes e grilhetas que tinham cabido noutros tornozelos. Grilhetas grossas, escuras com marcas de outras macerações de sangue, pele e carne humana.
.
Há homens que condenam assim homens.
.
Esta corrente que hoje oiço é a do cão do vizinho, não é ao fundo da rua, é mesmo ao lado. Terá o animal talvez um ano e pouco mais, foi condenado assim desde pequenino.
A primeira vez que o vi, já trazia uma coleira que lhe apertava o respirar e esganava o ladrar, mas na inocência brincava e a felicidade deixava-o ser assim, não tinha escolha.
Foi-se apercebendo o animal, da existência de homens e outros animais, que ele pouco vê, mas ouve, porque das três paredes que o cercam feliz ele é, por não ter uma quarta que o aprisione como aos prisioneiros.
O seu horizonte é limitado, mas ainda vê alguns pássaros e um gato que ele deixa passar mesmo ao largo, porque é o amigo que se aproxima mais e porque a corrente não o deixa ir mais longe.
Conseguiu soltar-se três vezes e para nossa felicidade, dele e minha, os nossos olhares encontraram-se, eu do lado de cá do muro e ele do lado de lá. Tinha sede e sabia que a água vinha de uma mangueira que tentava desesperadamente fazer com que vertesse. Assim, em repuxo e com a mangueira do nosso lado fiz refrescar o casaco de peles do animal, nos 38 graus desse dia de Verão.
Feliz esteve.
Mas por ter fugido da prisão, a pena aplicada é agora uma corrente nova, três vezes mais grossa do que a anterior.
Oiço o arrastar pesado.
Uiva e chora em constante desespero para ele e para nós, que já tentámos fazer perceber aos donos, da punição que estão a dar ao animal.
Nasceu este animal e tantos outros que estão nas mesmas circunstâncias ou piores, para quê? Para se saber que ali existe um cão?
Com o 25 de Abril, os homens das grilhetas foram finalmente libertados.
Quando será então o 25 de Abril para os animais em Portugal?
Inez Andrade Paes
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