sábado, 21 de setembro de 2013
Pego em tuas mãos, com linhas tão claras e definidas e tão à flor da pele, e tão à flor de todos os nossos sorrisos e de todos os nossos vícios que é a vida, de ser nascido numa África que hoje se senta ao colo de todos os poderosos, mas que na sua social essência, é tão pobre como as mãos dos que nos abraçam e são amigos. Mas esta pobreza está só nas mãos vazias de ambição. Porque Moçambicano que se preze não tem ambição, porque nasceu num chão onde a plenitude está.
Tuas palavras, querido Poeta, são lanças de flores e água que os pássaros vêm buscar e levam para o Mar.
Não seria esse Mar tão nosso conhecido e onde a Glória repousa ainda e se modifica na textura lírica que se perdura nela e em todos nós? Não seria esse Mar tão teu, como os que te amortalham e te seguem, lambendo as hastes modestas que te crescem como asas mas que não te deixam voar porque aqui sentes, meu querido Poeta, aqui no nosso chão de onde as nossas Mães secretamente nos velam. Aqui estão as mãos dos pretos que nos criaram e nos abraçaram e nos amaram sempre sem a lei dos que não sentem, sem a lei dos que pensam saber que com frases feitas só as margens da folha nos são dadas para a escrita.
Mas tu sabes Poeta, querido Poeta, nós temos o papel todo, até aquele que nos serviu de exemplo através das mãos dos outros Poetas que estiveram presos e nos passaram um testemunho exacto da segurança que é necessariamente humana.
Liberto estas palavras secas, em memória de todos os nossos Queridos Poetas Mortos e levanto-me contigo na mesma luta que continua, pelo mais fraco e pelo que enobrece e dá o corpo na frente da batalha que ainda não está ganha e que não pode ser exemplo dos que estão em frente e desassossegam um Povo que já deve estar livre de todas as amarras que estão gravadas e evidenciadas na história que outros ainda se vangloriam e não dão exemplo de nada.
Levanto-me contigo em toda a Nobreza que tem sido a tua Palavra e dignifico a causa de uma luta saturada, aberta e com a urgência de ficar cicatrizada.
Ao Povo Moçambicano e a todos que da escrita dão voz àqueles que não conseguem com a escrita dignificar a Vida.
Inez Andrade Paes, em resposta ao Poeta Eduardo White – 17 de Setembro de 2013
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
sábado, 14 de setembro de 2013
sábado, 7 de setembro de 2013
EM MEMÓRIA DOS MORTOS NA SÍRIA
Espero que o sol se
levante desta bruma
espasmos como açoites
em corpos frágeis por engasgos de ar envenenado
caras arrepanhadas de
dorem agonia
um impacto criado
foram homens foram homens que mataram
largaram as bombas e
fugiram
são crianças são crianças entre as penas
tantos pássaros de
asas de seda que na Síria morreram
Voem meus meninos Vossas Mães estarão à espera
Voem para o Norte que o Verão aí está a ser cruel
Voem com as vossas asas de seda
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Lembrem-se
os homens são frágeis Lembrem-se
de máscaras todos podemos ser
Mas daquelas que deviam ser as caras
são marcas pesadas e desgraçadamente falsas
As que mandaram abater
Não sintam o que não é para sentir sintam o que é para ser
Lamentem que no vosso chão a morte foi ouvida
Por gemidos de asas a bater
Que abatendo assim Pássaros
serão eles vossas sombras
No altar do amanhecer
Inez Andrade Paes
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