sabes quando choras
e o silêncio está dentro sem lágrimas ?
sabes quando morrem as árvores
e não podes fazer nada
e não tens posse de vida porque ela não te foi dada?
a não ser que as sabias ali e as vias de mãos sempre dadas
sou agora assim como mutilada
de uma assombração inúmera desagregada à volta do pescoço
com duas mãos apertadas
sabes quando choras
entre um pecado
uma fúria de raiva que não era precisa porque o tempo
que estava
não o vias
passava sem o teres de perto
sou agora assim
presa com os nós dos dedos
ao chão
onde tuas hastes e braços tombaram
sabes
?
leva-me agora
não olho pro céu
fico calada
Inez Andrade Paes
quarta-feira, 24 de março de 2010
quinta-feira, 11 de março de 2010
Garça-real
Ardea cinerea
aquela velha Garça-real tinha um dono
planando planando em círculos
largos
cada vez mais largos
cada vez mais baixos
abaixo de seus planos
um lago com peixes
doze dias
aquela velha Garça-real
planava planava
pousava no muro alto
e esperava
o vento soprava em suas penas
parecia uma velha figura despenteada
levantava
de novo em plano preciso
planava
descia
mais alto pousava
no telhado da casa que tinha o lago
aquela velha Garça-real tinha um dono
planando planando em círculos
largos
cada vez mais largos
cada vez mais baixos
abaixo de seus planos
um lago com peixes
doze dias
aquela velha Garça-real
planava planava
pousava no muro alto
e esperava
o vento soprava em suas penas
parecia uma velha figura despenteada
levantava
de novo em plano preciso
planava
descia
mais alto pousava
no telhado da casa que tinha o lago
o homem da casa do lago
era dono
de peixes de prata que brilharam em seu bico
aquela velha Garça-real tinha um dono
o céu
Inez Andrade Paes
era dono
de peixes de prata que brilharam em seu bico
aquela velha Garça-real tinha um dono
o céu
Inez Andrade Paes
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