sexta-feira, 18 de agosto de 2023

CANGAS e JUGOS









No amanhecer, não são só os pássaros que chegam para cantar, o som recortado pelo traço do paralelo em que assenta a curva da roda do carro de bois, também adianta o dia.

Vacas e bois são quem puxa. O cheiro característico que os segue é fardo que nos guia até eles. Umas vezes cheios, outras vazios, os carros aumentam o som no espaço.

No corpo limpo ou marcado, pelas crostas de bosta seca, o pêlo avermelhado ou malhado a branco e preto, tão daqui, deste lugar onde a Ria entrecorta o chão e avança lentamente com seus braços de água. 

Em junta seguem os animais sob o jugo de madeira lavrada que assenta nos robustos pescoços ligados por brochas e figuras geométricas, a talha já tão macerada por anos de trabalho. 


dois bois de olhos grandes

um homem calçado de socas e uma longa vara

o ritmo de todos

faz a música do dia

as patas dos animais pousando conforme a carga 


o toque da vara no lombo dos bois

as socas a bater no granito os olhos dos três 

encerram 

um pensamento vagaroso e belo


anunciam

mais um dia de trabalho


Inez Andrade Paes