sexta-feira, 21 de agosto de 2015

terça-feira, 11 de agosto de 2015

 
Por versos do livro DA VIDA CONCLUSA de Mário Herrero Valeiro, escrevo:
 
Que na calma do caminho abra pedras sobre as águas
canso-me logo a seguir porque a dor é a imagem
Não se tira a cruz marcada de um alto da montanha
porque lá se vai
se repara a parte mais gasta.
Limpa-se a dor também quando o pano passa.
Porque peregrinos são aqueles               os que por lá passam
e também o que de baixo do seu olhar lançam flores a murchar.
 
Este livro em que o negrume, todo ele se entrelaça entre a lua, a luz e o líquido mais terreno. Da água e da vinha esse mal que lhe trespassa
é a vida mais inteira que se abeira da poesia e da escrita, toda a letra que se abre para a Natureza.
Essa forte e indignada.
 
Mas de forte encanto na mão do Autor que Da Vida Conclusa.
 
 Inez Andrade Paes
 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Aos jovens Makondes

não é o sol que te tira a luz
não são as escamas dos peixes que chegam à praia
que te cortam os pés
são as palavras
as palavras que não sabes escrever
com as letras que te ensinaram a dizer
o teu nome
o teu verdadeiro nome
não és Americano
não és Italiano
não és Brasileiro
não és Chinês
és Moçambicano
Makonde
de tez negra avermelhada e cortada no passado
marcando assim a pele para que não te escolhessem

Não temas a origem
escreve o teu nome assim
como o nome de um guerreiro mesmo que já esteja morto
dali levarás
toda a sua dignidade humana

Shonde     Unaiti     Kulupila      Ndaudya              

Inez Andrade Paes
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Nomes Makondes que por causa da colonização Portuguesa tiveram obrigatoriamente de ser misturados com nomes Portugueses, tirando-lhes a essência.
Hoje - Moçambique Independente - os mesmos nomes são desprezados porque em vez deles e com o brilho do dólar é mais interessante ser John.

Shonde – Piedade
Unaiti – Independência
Kulupila – Esperança
Ndaudya – Regressar

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Porque hoje me lembro de si, Augusto Chilavi

[…]
 Mas continuando a falar de escultura, em Pemba no Alto Gingone vive um dos maiores Escultores Moçambicanos e creio que muito pouca gente o sabe.

 Chama-se Augusto Chilavi. Uma da peças esculpidas por ele foi um cálice, da Missa que o Papa celebrou quando esteve em Moçambique.  Tive o prazer de estar com este Senhor , e no espaço em que muitas vezes estive em pequenina... sua casa.

 A grande mangueira onde brinquei com outras crianças ainda lá estava, apesar de termos falado de que muitas outras árvores tivessem sido arrancadas com falta de senso, para dar lugar à estrada que rasga agora desde o aeroporto até ao Wimbe. Um aspecto focado por ele e bem marcado sendo ele pessoa que tão bem as conhece, quando as suas mãos durante tantos anos pegaram em madeiras tão nobres e deram novas formas umas tão sofridas outras tão belas, sobrepondo-se ao próprio sofrimento natural das árvores..

..Aprendi com o meu Pai que quando se faz qualquer tipo de construção não devemos abater árvore alguma se não for estritamente necessário. Aqui neste canto da Europa, arrasa-se primeiro e pensa-se depois...
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Inez Andrade Paes, Pemba 2005