tudo chora
as árvores
as paredes
as penas dos pássaros
o gato é uma estátua molhada na eira do vizinho
magro
na eira
só
com a vassoura da última varridela
o sol não quer vir ter connosco
as ancas fortes e robustas das nuvens
empurram a claridade
os cirros lá mais ao alto
são vidraças geladas
a chuva pára
o passarinho da chuva canta
mais chuva vem anunciada
tudo chora à volta
na eira
o gato
de barriga limpa para se manter quente
o cabo da vassoura entorta
o choro das Rolas-turcas anuncia a ida do Falcão-peregrino
à volta do limite tudo chora
Inez Andrade Paes
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