No amanhecer, não são só os pássaros que chegam para cantar, o som recortado pelo traço do paralelo em que assenta a curva da roda do carro de bois, também adianta o dia.
Vacas e bois são quem puxa. O cheiro característico que os segue é fardo que nos guia até eles. Umas vezes cheios, outras vazios, os carros aumentam o som no espaço.
No corpo limpo ou marcado, pelas crostas de bosta seca, o pêlo avermelhado ou malhado a branco e preto, tão daqui, deste lugar onde a Ria entrecorta o chão e avança lentamente com seus braços de água.
Em junta seguem os animais sob o jugo de madeira lavrada que assenta nos robustos pescoços ligados por brochas e figuras geométricas, a talha já tão macerada por anos de trabalho.
dois bois de olhos grandes
um homem calçado de socas e uma longa vara
o ritmo de todos
faz a música do dia
as patas dos animais pousando conforme a carga
o toque da vara no lombo dos bois
as socas a bater no granito os olhos dos três
encerram
um pensamento vagaroso e belo
anunciam
mais um dia de trabalho
Inez Andrade Paes
Encantada com a fluidez do poema.
ResponderEliminarObrigada, Maria Oliveira. Abraço
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