É PRECISO
TER MÃOS ABERTAS AO SOL
a imagem não se coordena com o gesto
quando as raízes do pensamento andam perto
tocam no imaginário aberto
ainda a noite deixou traços daquele deserto absoluto
em que corro a amparar o corpo
depois do vento erguer dunas
ao longe
lagos parados
quando a brisa se move lenta
a passar à superfície
a imagem não se coordena com o gesto
dois dedos se movem
mas
o vento os empurra e só no outro momento
os escuto o torpor
dois dedos
como duas colunas erguidas
a um céu aberto cheio de pássaros a voar para o sul
creio ser um sonho
quando os personagens pairam ao meu lado
e os olho como conhecidos
e de braço dado até nos aturamos
porque a imagem não se coordena com o gesto
e tu
e ele
e eu
somos três num deserto
somos três a andar no caminho certo
olham-me os outros de soslaio
a pensar na loucura adormecida
em que os três pássaros alados
se identificam com a vida
corro a ti meu corpo desamparado
entre o gesto largo e a imagem única
a que me apego e quase largo
para te sentir a ti outro
mais perto desta vida
Inez Andrade Paes
in Paredes Abertas ao Céu (p.p.64,65) 2010 - edição de autor
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