sábado, 21 de março de 2020

MEDITAÇÃO INTERROMPIDA



 do que do tempo limite
de reflexão
nos impeça de amar
seja talvez a ânsia
da visão clara
de que a pequena vaga que lá vem
se transforme em onda
e não ter o tempo necessário    
para passar           para lá

como o barco que corta a onda
e se transporta para o mar largo
libertando-se nas auras da plácida ausência meditativa

saber
ouvir o silêncio
e poder amar
a sua ausência
transfere para o corpo
a desigualdade do estado
capaz da percepção

o perigo é
a transformação de seres ausentes
sem limite
porque não podem amar


( esqueço-me do corpo
que dança em si mesmo
molda-se conforme o espaço
o pensamento
a dor que provoca
é um pé descalço a raspar
na rocha acabada de partir
lembra-me por favor
de que a manhã ilumina as partes mais veladas
e tudo ainda é ritmo
uma noite só              ainda só
dentro do corpo adormecido            ao fundo da casa )

 Inez Andrade Paes  

Poema publicado na Revista Reis n.º 54, Ovar - 2020

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