segunda-feira, 21 de março de 2022

ci sono uccelli in fondo a quest’oceano











ci sono uccelli in fondo a quest’oceano

e sguardi esangui accanto alle conchiglie

 

saprai tu cantare come loro?

o in questo mare il sale non cura?

 

tante ferite aperte e crude

soffrono come patelle alla deriva

strofinando per  terra le lingue aperte

al margine di tutti i volti sentiti

e gli sguardi dispersi in mezzo a tutto

quello che è mare e quello che è fondo

 

(Tradução Anna Fresu)

 

há pássaros no fundo deste oceano.

e olhares exangues ao lado das conchas

 

saberás tu cantar como eles?

ou neste mar o sal não cura?

 

tantas feridas abertas e cruas

sofrem como lapas à deriva

roçando no chão as línguas abertas

à margem de todos os rostos sentidos

e os olhares dispersos no meio de tudo

aquilo que é mar aquilo que é fundo

 

V.10.16a

 Inez Andrade Paes in À Margem de Todos os Rostos,(p.29) - Coisas de Ler, 2017

quinta-feira, 10 de março de 2022

"Poemas ibéricos"


 

ama       

                                                                
levanta o olhar para o horizonte                                
é lá que ao entardecer a morte deixa a paz   

ama                         

levanta la mirada al horizonte
allí al atardecer la muerte deja la paz


(inédito, 2021)

 Poemas ibéricos (25) INEZ ANDRADE PAES

 

Aspectus. Revista de Arte & Ciência 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

é sempre o vento - het is altijd de wind

 het is altijd de wind
de bestendige wind

..

é sempre o vento
o vento constante

 

ZUCA MAGAZINE

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

É PRECISO

 

É PRECISO

TER MÃOS ABERTAS AO SOL

 

a imagem não se coordena com o gesto

quando as raízes do pensamento andam perto

tocam no imaginário aberto

ainda a noite deixou traços daquele deserto absoluto

em que corro a amparar o corpo

depois do vento erguer     dunas

 

ao longe

lagos parados

quando a brisa se move lenta

a passar à superfície

 

a imagem não se coordena com o gesto

dois dedos se movem

mas

o vento os empurra e só no outro momento

os escuto        o torpor

 

dois dedos

como duas colunas erguidas

a um céu aberto cheio de pássaros a voar para o sul

creio ser um sonho

quando os personagens pairam ao meu lado

e os olho como conhecidos

e de braço dado até nos aturamos

porque a imagem não se coordena com o gesto

e tu

e ele

e eu

somos três num deserto

somos três a andar no caminho certo

 

olham-me os outros de soslaio

a pensar na loucura adormecida

em que os três pássaros alados

se identificam com a vida

 

corro a ti meu corpo desamparado

entre o gesto largo e a imagem única

a que me apego e quase largo

para te sentir a ti outro

mais perto desta vida

 

Inez Andrade Paes

in Paredes Abertas ao Céu (p.p.64,65)  2010 - edição de autor