terça-feira, 28 de dezembro de 2021

É PRECISO

 

É PRECISO

TER MÃOS ABERTAS AO SOL

 

a imagem não se coordena com o gesto

quando as raízes do pensamento andam perto

tocam no imaginário aberto

ainda a noite deixou traços daquele deserto absoluto

em que corro a amparar o corpo

depois do vento erguer     dunas

 

ao longe

lagos parados

quando a brisa se move lenta

a passar à superfície

 

a imagem não se coordena com o gesto

dois dedos se movem

mas

o vento os empurra e só no outro momento

os escuto        o torpor

 

dois dedos

como duas colunas erguidas

a um céu aberto cheio de pássaros a voar para o sul

creio ser um sonho

quando os personagens pairam ao meu lado

e os olho como conhecidos

e de braço dado até nos aturamos

porque a imagem não se coordena com o gesto

e tu

e ele

e eu

somos três num deserto

somos três a andar no caminho certo

 

olham-me os outros de soslaio

a pensar na loucura adormecida

em que os três pássaros alados

se identificam com a vida

 

corro a ti meu corpo desamparado

entre o gesto largo e a imagem única

a que me apego e quase largo

para te sentir a ti outro

mais perto desta vida

 

Inez Andrade Paes

in Paredes Abertas ao Céu (p.p.64,65)  2010 - edição de autor


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Feliz Natal


 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 30 de outubro de 2021

ÁGUA SILÊNCIO SEDE


Tanta Gente, Mariana

e todas as bocas caladas

o silêncio habita as palavras

aqui

tão perto

o tom branco

a contrariar

a palavra

escrita neste risco mais profundo

que desenha

 A Janela Fingida

e o Jasmim a tocar nela

 

cuido da flor

frágil

que nasce ao pé da casa

 

no íntimo da palavra

que rebola acesa e limpa

uma esfera de fogo

como uma coisa linda

 

a luz que da bola sai

a luz que dela escorrega

é uma luz

silenciosa

crua

Além do Quadro

ao mesmo tempo dolorosa

 

Inez Andrade Paes in Água Silêncio Sede, Homenagem Poética a Maria Judite de Carvalho no centenário do seu nascimento - Poética edições, 2021

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Bach Suites n°1, 2, 3


deixo os degraus cheios de folhas 

oiço os teus passos 

quando voltares

o nevoeiro denso da tua partida 

derrama-se nesta chuva 

 

Inez Andrade Paes

sexta-feira, 9 de julho de 2021

ESTRELAS

só duas

arrastam-se na superfície prateada

as outras são inúmeras quase invisíveis

mas são

outras           muitas

 

só duas escorrem espuma

enrolam-se  como uma

e espalham-se na areia

dura

 

macera este mar    a areia e a bruma

que encerra noites longas

 

 

Inez Andrade Paes in Colectânea de Poesia & Lendas Luso-Galaicas (p.138)- 2020

 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

sábado, 24 de abril de 2021


 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

  

Pandemus             

 

no lume

uma agonia

entre dois gumes

um mortal          outro difuso

anagrama sem memória              da própria chave

neste confronto uma parte

humana

o lapso                 a manha

a mordaça          cautelosamente              desiluminada

imprevista

na redonda concha que circula como um pequeno botão

imperfeito

que rebola na estrada   de pequena inclinação

são as mãos       só mãos de clemência   de curvatura hexagonal

que se vêem a sacudir

por trás de batas brancas

limando o que nada se mantém

 

é parca

a memória humana

 

Inez Andrade Paes

 
Poema publicado na Revista Reis n.º 55, Ovar - 2021

sábado, 9 de janeiro de 2021

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

quinta-feira, 24 de setembro de 2020


 

sábado, 19 de setembro de 2020